domingo, 13 de novembro de 2011

Com um pé no passado


Fui uma criança que adorava livros e música. Uma das minhas leituras prediletas era o "Mundo Pitoresco", super antiga coleção de nove livros em pesado papel couché, meio devorados por traças, contendo descrições de países, características de povos exóticos, expedições de cientistas, aventuras de exploradores. Os livros apresentavam toscas fotos em branco e preto. Me lembro que os nativos e habitantes de longínquas regiões exibiam seus trajes típicos sempre com a mesma pose estática diante da camera. Afinal das contas os filmes fotográficos antigos não eram muito sensíveis, exigiam imobilidade do retratado pra não borrar.

Naquela época eu até mesmo tinha a minha galeria imaginária de tipos misteriosos e inesquecíveis que eu conhecia através do "Mundo Pitoresco": pescadores de pérolas do Reino do Sião, tocadores de flautas de Bagdá, mercadores de rua de Pequim, índios caçadores e encolhedores de cabeças do Alto Amazonas (os famosos e temíveis Jívaros), dançarinas folclóricas do Tirol italiano... e tantos outros...

Tudo isso incendiava a minha imaginação adolescente e me fazia sonhar com viagens a lugares estranhos sempre levando uma camera fotográfica. Bem, hoje em dia sou um fotógrafo amador e adoro fazer exatamente isso: viajar e fotografar. Ainda não fui a lugares tão longinquos quanto Sião ou Pequim, mas talvez eu ainda vá...

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Então... quando viajo pra lugares diferentes sempre tenho aquelas antigas fotos em mente. Acho que é por isso que às vezes inconscientemente eu procuro recriá-las...

Foi o que aconteceu nesse caso acima. Eu estava numa fazenda colonial em ruinas, perdida no meio da Serra do Mar, na região de Cunha/RJ. O nome dele é Zé da Mata, ou Zé da Onça, não me lembro. Era o guia que me conduziu a cavalo pela floresta pra encontrar essa construção embolorada, escura e corroída pelo tempo. Eu disse que queria mandar uma foto dele pra National Geographic Magazine... ele não entendeu muito, mas acreditou, aceitou e eu cliquei...

O resultado que vocês veem não é dos melhores pois trata-se de uma foto de papel em 10x15 que foi escaneada e posteriormente retocada com o Photoshop.

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P.S.: o Reino do Sião (de onde vêm os antipáticos gatos siameses) corresponde hoje em dia à região da Tailândia, lá no extremo oriente do nosso planeta. Mas Sião é um nome muito mais bonito e sugestivo, não acham?
 
 
 
 

domingo, 23 de outubro de 2011

Paraty Antiga


Nossa! Essa imagem me faz lembrar os contos e fábulas medievais que eu lia quando criança! Justos e corajosos cavaleiros andantes, em armaduras reluzentes, implorando que a princesa jogasse os lindos cabelos pelo terraço, para que eles (os cabelos) servissem de corda... e escada. 

"Rapunzel, Rapunzel, joga suas tranças de mel..."

Interessante! Hoje eu noto claros significados sexuais (e até mesmo políticos) nessas histórias de principes correndo atrás de princesas. Mas quando criança eu só via justos ideais de libertação e amor desinteressados...

Eu estava errado antes? Ou estou errado agora?

Foto: esse meu clique mostra uma super antiga edificação de Paraty, cuja presença meus astutos olhos de lince só perceberam depois de umas 15 visitas à cidade...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Restos Mortais



Essa é uma foto que cliquei numa fazenda colonial em ruínas, na região que fica entre RJ e MG. Era um dia frio, de chuva incessante, odores de mofo e sombras esquisitas.

Essa fazenda tem uma parte que ainda está ativa, produzindo cachaça (da boa) num alambique. Tem tambem passeios e programas bobos pra turistas otários.

Pra fotografar me fixei mais à parte podre e decadente dessa fazenda. Lá eram exibidos utensílios de épocas coloniais, restos de carroças, ferramentas e máquinas. Ou seja: eram os restos mortais daquilo que anteriormente tinha sido um sistema de produção capitalista, exuberante e poderoso,  mas agora jazendo nos cantos úmidos e esquecidos, em estado de decomposição...

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Dias...



Essa é uma foto que tirei em São João del Rey/MG, cidade que me cativou e quase me fez esquecer Paraty. Tambem me fez pensar em Florença, na Itália... Ok, o estreito canal que vemos aí de forma alguma nos lembra o orgulhoso rio Arno que banhou a florentina dinastia Medici, mas as construções coloniais nas imediações têm uma forte influência européia.

Descarreguei minhas mochilas num hotel que fica alí adiante, à direita, às margens do canal... e fiquei feliz vários dias!

Sim, vários dias feliz, ouvindo sinos de igrejas ao entardecer (agnósticos como eu tambem gostam disso!)... Dias vendo bandos de crianças ruidosas saindo despreocupadamente de suas escolas, sem nenhuma estúpida síndrome de super-hiper-mega-segurança... Dias sentindo o odor suave e despoluído de uma atmosfera culta e gentil, em todos os sentidos... Dias de relacionamentos educados e prazeirosos... Assim como a vida tem que ser!

domingo, 28 de agosto de 2011

Solidões


É muito bom ficar em casa numa tarde chuvosa. Não tem efeitos colaterais. Os livros, os filmes, os CDs, a internet estão alí pedindo pra serem explorados...

E quando a fadiga invade nosso silêncio, sempre temos uma janela pra ver a chuva cair, ver as pessoas apressadas apertarem os passos em busca do abrigo e do calor aconchegante que já temos...

Não há nada melhor do que o lar!

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Cliquei essa foto há uns dois ou três meses atrás, quando uma nova estação do ano já se anunciava, com suas chuvas insistentes e ausência de cores...

Simplesmente apoiei a camera fotográfica com uma teleobjetiva no parapeito da janela e aguardei alguma alma solitária passar. Essa aí acima foi a minha escolhida, uma personagem incógnita de uma cidade cinzenta..

domingo, 24 de julho de 2011

O Revoar das Expectativas



Vocês podem imaginar o que é estar num lugar como esse? Ok, como dizia Jack o Estripador, vamos por partes:

Pensem no momento do entardecer quando as rãs coacham, os grilos grilam, os mosquitos mosquitam. Pensem no calor, muito calor, obsceno e subversivo calor... Ar parado, nem ao menos uma leve brisa... Mar sereno, nada de ondinhas-de-nada... Iluminação difusa, múltiplos cromatismos... Aquele cheiro adocicado de mato molhado e flores silvestres se mesclando e grudando na pele...

A mente? Cheia de vazios, pronta pra entrar em alfa.

E agora, pra sentir na pele, imaginem MILHÕES de borrachudos tentando desempenhar sua missão primordial, ou seja, praticar o extrativismo sangüineo em meu corpitcho urbanóide pouco habituado a ser vampirizado...

Bem, nada é perfeito!

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Cliquei essa foto em Pedra de Guaratiba/RJ, num anoitecer de densas expectativas e ralos acontecimentos.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Frio adolescente e águas verdejantes


Aquí perto de S.Paulo (a 160 km) tem uma cidade chamada Campos do Jordão, a "Suiça Brasileira". Alí, no inverno, não é dificil as temperaturas baixarem a 5 graus abaixo de zero...

Quando esse friozinho acontece, o povinho deslumbrado e metido a besta se enche de arrogância. Esses inexperientes vestem seus casacos cheirando a naftalina e exibem suas luvas e botas lustrosas pra se mostrar ao mundinho provinciano e limitado que habitam. Vivem comparando suas temperaturas com as temperaturas do resto do país. Tem caras que adoram se sentir falsamente europeus, diferenciados e "separados" do resto do país. Não gostam de fazer parte do Brasil e da America Latina...

Essa mentalidade é típica de gente COLONIZADA, com baixa auto-estima e forte complexo de inferioridade. Essa classe média vai ansiosamente correndo atrás da neve efêmera que cai durante alguns minutos e de um frio ordinário que não impressiona os europeus. Querem que o frio lhes dê um status que na realidade não possuem. Desejam parecer o que JAMAIS serão: cidadãos civilizados do Primeiro Mundo... Mas com essa fascinação tonta acabam revelando suas verdadeiras origens TROPICAIS, das quais eles tanto se envergonham!

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Frio verdadeiro não é essa bobagem que vemos em nosso país. Num vilarejo no norte da Italia cheguei a enfrentar um frio de 18 graus abaixo de zero. Nariz e orelhas podem congelar e quebrar facilmente nessas condições realmente severas. O gelo acumula no bigode e na barba. As pessoas não ficam nas ruas se exibindo sorridentes como asnos. Quem conhece o frio europeu DETESTA baixas temperaturas, não se vangloria delas!

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FOTO: cliquei essa foto quando mergulhava na Lagoa Azul, região marítima de Ilha Grande... Eu pretendia experimentar uma proteção de camera chamada "dart bag", que permite fotografar a muitos metros debaixo da água. Não fiquei muito satisfeito. Às vezes entra um pouco de água, o plástico embaça quando menos se espera.

Mas se não fosse a tal "dart bag" eu não conseguiria fotografar esses peixes-palhaços "caminhando" bem comportados em fila indiana num cenário verde-mágico que me fez esquecer do mundo exterior...

terça-feira, 28 de junho de 2011

Iates dos "tubarões"


A rodovia Rio-Santos, com 555km, percorre todo litoral norte de SP e tambem o litoral sul do RJ. Na verdade ela é apenas um trecho da BR-101, que liga São José do Norte/RS a Natal/RN, uma distancia de 4.500km.

É pra ser rodada aos poucos, tranquilamente, de preferencia parando e pernoitando nas diversas cidades marítimas, porque as paisagens e as praias são lindas e variadas. Recomendo uma pausa em Angra dos Reis, ou em Vila de Trindade, ou em Paraty...

Quem viajar sem pressa vai encontrar pelo caminho muitos turistas, alem de pescadores, indígenas de diversas tribos, hippies e... milionários!

Esta é uma vista bem parcial de uma marina de Ubatuba/SP, um refúgio onde os "tubarões" guardam seus iates. Cliquei essa foto da própria rodovia...

domingo, 12 de junho de 2011

Luzes da rua Augusta


Certa noite eu estava no botequim do Neto, tranquilamente bebendo um pouco de cerveja... Começei a ouvir numa mesa atrás de mim algo parecido com um casal conversando animadamente. Não me virei, mas dava pra perceber que não paravam de conversar, falavam ao mesmo tempo, às vezes falavam um pouco alto. Até pensei: "Puxa, está aí um casal com bastante assunto e vivendo seu relacionamento com entusiasmo!"

Bom, só quando me levantei pra ir tirar água do joelho é que ví que cada um deles estava é falando com seus CELULARES, não com seus parceiros. Quando fui embora passei novamente pela mesa do "casalzinho eletrônico" e eles estavam com celulares desligados, bocas fechadas e olhos vazios, entorpecidos na tristeza da solidão e incomunicabilidade humanas...

Foto: cliquei na rua Augusta de dentro do carro em movimento, com a camera na mão. O resultado foi esse "imbroglio" que na minha opinião não deixa de ter certos atrativos surrealistas. Se quiserem, cliquem na foto pra vê-la em tamanho maior...

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Pensando, em Paraty...


Essa é uma foto que cliquei há alguns anos em Paraty, com filme alemão AGFA HDC 100 PLUS, que na época era meu preferido. Eu ainda não usava cameras e processos digitais. Recentemente digitalizei a foto de papel, passei pelo Photoshop CS5 pra corrigir as cores e o enquadramento. O resultado aí está...

Essa imagem tem uma ilusão de ótica: as laterais da janela estão rigorosamente alinhadas e paralelas em relação às bordas da foto, mas vemos um efeito de distorção devido aos fios elétricos inclinados.

A moça parece estar com o pensamento longe. Será que essa jovem desconhecida estava pensando em sair de um lugar pacato e ensolarado como Paraty e vir a São Paulo? Será que ela sonhava em vir à metrópole e se tornar bucha de canhão obediente e prestativa aos interesses do capitalismo selvagem que aquí impera?

Nunca pude saber, nem falar com ela, pois essa foto foi tirada de uma longa distância com uma teleobjetiva...

Sou um perigoso Big Brother atacando com minha camera indiscreta... Quáquáquá...

domingo, 30 de janeiro de 2011

Marcas do Império



Cliquei essa foto na av. Paulista...